quinta-feira, 22 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Ela profana a noite com sua pele de leite desenhada por incontáveis marcas de cobertor, e dorme em meu leito adentrando os meus sonhos, com a cabeça à poucos centímetros da minha. Como ardem estas curvas de cristal! Como eu choro de amor ao seu lado! Seu tato sublinha a música do amanhecer e compara o nosso canto aos anéis de vapor de algum planeta em erupção. Esta minha carne, a ela eu ofereço calmamente e preenchido de mistério. Penso, mais de uma vez, em redescobrir as profecias da vida em seu ventre materno, pois não há tempo que em mim diminua a pressa de atar os nós dos joelhos meus aos joelhos dela. Tento encontrar o calor de verão em seus olhos de deusa, e retirar do frio este meu corpo que já atravessou invernos. Quero acordá-la com histórias fantásticas de naufrágios em rios de prata e quatro braços que se apertaram loucamente sob a lua deste mundo, em sussurros ébrios e famintos. Como alimento para este espírito sereno, dou meu próprio sangue, pois não há como ouvir seu sopro de sono sem me emocionar profundamente, como um cavalo selvagem num imenso campo de feno.
domingo, 18 de abril de 2010
Roteiro de vida e morte de Pablo Salinas
Pablo Salinas andava perdido e morreu perdido, filho dos naufrágios eternos. Ele roubou a cor mais furiosa do Sol. Todos os homens e mulheres existentes sopravam suavemente em sua orelha para fazê-lo dormir, e fugiam de retorno às mágoas do passado, inocentes. Lírios e rosas repousavam em sua lápide, estranhamente o coração ainda ardia. O companheiro de ninguém foi embora. O mais sozinho dos homens. Uma hora todos se vão, mas com Pablito foi diferente. Ele não só se foi, ele partiu. Deixou inexistentes os rastros de lembrança.
Quando vivo, o pulso de Sal era precoce em seu estômago e ele sempre dormia mal. Há nada defina a figura de Pablo, não há decência nem moral. Muitos o teriam por odiado, tanto quanto o amor odeia a poesia. Pablo marujo e amigo da penumbra, unicamente inteiro e tenso. Provavelmente ele cuspiria na cara de todos, começando pela sua própria se tivesse topado de frente consigo durante a vida. Não há paredes brancas que possam cavalgar em sua paz de morto. Pudera alguém um dia recusar sua vil serenidade: nosso cowboy chora por todos. Chora porque dentro de si há sequer uma lagrima para sua própria tristeza. Conquanto sinta a dor de todos, faz doer à sua rosa por não poder sentir mais dor. Ele anestesia suas emoções num pote de cinzas, ele bebe para poder amar seu reflexo.
O tecido da sua tristeza foi corroído por dentes sublimes e anarquicamente amarelados onde as orquestras mais cristalinas e arenosas ensaiavam aos domingos. Os expectadores imploravam aos céus por ser aquela musica o grande sentido da existência. A música dos dentes de Pablo revelava o olhar da mulher nua no frágil leito de uma gema de bálsamo e sofria atento aos prazeres da glória ao final da sua busca por amor. Assim, tornou-se cego. Quanta agonia envolvia o desfecho de sua vida.
Era o senhor Salinas, o barba velha. Sua morte fora consequência de veneno, bala ou talvez um odor, eu desconfio de qualquer vã teoria. Pablo morreu de filosofia. Poucos sabem a distancia total do exílio, mas sei que ele viveu para tentar alcançá-la, como se soassem cânticos e sinos de uma aurora enluarada no presente.
Ele foi muito belo. Nele o amor queria sofrer, queria simplesmente tramar sem ser oportunado. Queria passar despercebido e não ser molestado pelo destino. Queria fluir no córrego de tua mulher e nas tintas que abrigavam suas telas. O imenso e profano desalento causou-lhe desengano, e ele sorriu novamente. Um crime foi o que lhe fez cair do céu. Ele matara pessoas, torturara átomos e pedras. E os portos da China, e os andaimes do sossego tomaram seus olhos.
Nos espirros suaves de seu filho ele notava Deus. No fundo, fugia. Por tempos, ele fez de tudo para afastar-se de Deus e sugara o mel do inferno por vários dias. Quanta ilusão e incongruência que há nesse mundo, companheiro Pablo Salinas.
Mas não sinto a tua falta. Posso dizer que o invejo por ser tão livre e tão preso. Eu, amigo íntimo, sou apenas preso e anseio por liberdade, igual a planta que germina. Teu espírito me fornece caos e adubo para proliferar meus dedos.
Como uma raiz de neve, Pablo navegou comigo nos mares cansados, subiu como uma luz para o infinito, para o nada como amigo valioso. Fechou-se o pano de uma triste fenda no tempo selvagem da vida. Algo clama por teu nome, mas quero contemplar a lua esta noite, mestre. Essa lua meiga como a exibição de cometas d’água em dias de tempestade, que pede por mais de minha saudação cortes. Quer meu sangue, minha saliva.
Diria a ele: descansa amigo velho, que a eternidade está por vir. Vamos a ela na velocidade dos camelos, e que possamos nos encher de vácuo. Deixa teu pranto cair na face da amada, mas não se esqueça de amar a fada. Pablo Salinas, feito de carne e fumaça. Quem poderia imaginar que ele realmente existiu...?
Pablo Salinas andava perdido e morreu perdido, filho dos naufrágios eternos. Ele roubou a cor mais furiosa do Sol. Todos os homens e mulheres existentes sopravam suavemente em sua orelha para fazê-lo dormir, e fugiam de retorno às mágoas do passado, inocentes. Lírios e rosas repousavam em sua lápide, estranhamente o coração ainda ardia. O companheiro de ninguém foi embora. O mais sozinho dos homens. Uma hora todos se vão, mas com Pablito foi diferente. Ele não só se foi, ele partiu. Deixou inexistentes os rastros de lembrança.
Quando vivo, o pulso de Sal era precoce em seu estômago e ele sempre dormia mal. Há nada defina a figura de Pablo, não há decência nem moral. Muitos o teriam por odiado, tanto quanto o amor odeia a poesia. Pablo marujo e amigo da penumbra, unicamente inteiro e tenso. Provavelmente ele cuspiria na cara de todos, começando pela sua própria se tivesse topado de frente consigo durante a vida. Não há paredes brancas que possam cavalgar em sua paz de morto. Pudera alguém um dia recusar sua vil serenidade: nosso cowboy chora por todos. Chora porque dentro de si há sequer uma lagrima para sua própria tristeza. Conquanto sinta a dor de todos, faz doer à sua rosa por não poder sentir mais dor. Ele anestesia suas emoções num pote de cinzas, ele bebe para poder amar seu reflexo.
O tecido da sua tristeza foi corroído por dentes sublimes e anarquicamente amarelados onde as orquestras mais cristalinas e arenosas ensaiavam aos domingos. Os expectadores imploravam aos céus por ser aquela musica o grande sentido da existência. A música dos dentes de Pablo revelava o olhar da mulher nua no frágil leito de uma gema de bálsamo e sofria atento aos prazeres da glória ao final da sua busca por amor. Assim, tornou-se cego. Quanta agonia envolvia o desfecho de sua vida.
Era o senhor Salinas, o barba velha. Sua morte fora consequência de veneno, bala ou talvez um odor, eu desconfio de qualquer vã teoria. Pablo morreu de filosofia. Poucos sabem a distancia total do exílio, mas sei que ele viveu para tentar alcançá-la, como se soassem cânticos e sinos de uma aurora enluarada no presente.
Ele foi muito belo. Nele o amor queria sofrer, queria simplesmente tramar sem ser oportunado. Queria passar despercebido e não ser molestado pelo destino. Queria fluir no córrego de tua mulher e nas tintas que abrigavam suas telas. O imenso e profano desalento causou-lhe desengano, e ele sorriu novamente. Um crime foi o que lhe fez cair do céu. Ele matara pessoas, torturara átomos e pedras. E os portos da China, e os andaimes do sossego tomaram seus olhos.
Nos espirros suaves de seu filho ele notava Deus. No fundo, fugia. Por tempos, ele fez de tudo para afastar-se de Deus e sugara o mel do inferno por vários dias. Quanta ilusão e incongruência que há nesse mundo, companheiro Pablo Salinas.
Mas não sinto a tua falta. Posso dizer que o invejo por ser tão livre e tão preso. Eu, amigo íntimo, sou apenas preso e anseio por liberdade, igual a planta que germina. Teu espírito me fornece caos e adubo para proliferar meus dedos.
Como uma raiz de neve, Pablo navegou comigo nos mares cansados, subiu como uma luz para o infinito, para o nada como amigo valioso. Fechou-se o pano de uma triste fenda no tempo selvagem da vida. Algo clama por teu nome, mas quero contemplar a lua esta noite, mestre. Essa lua meiga como a exibição de cometas d’água em dias de tempestade, que pede por mais de minha saudação cortes. Quer meu sangue, minha saliva.
Diria a ele: descansa amigo velho, que a eternidade está por vir. Vamos a ela na velocidade dos camelos, e que possamos nos encher de vácuo. Deixa teu pranto cair na face da amada, mas não se esqueça de amar a fada. Pablo Salinas, feito de carne e fumaça. Quem poderia imaginar que ele realmente existiu...?
Uma minhoca desliza na folha da bananeira e da de cara com o besouro pesadão. Ele esta contemplando as pequenas luzes a girar mais acima, vagalumes e fadas, seres tão belos e ricos que inspiravam no besourão o desejo de estar perto, voar mais alto e ágil para se esquivar dos espinhos, irradiando vigor. Porem, ele se lamenta com a minhoca por não poder ser assim. Suas asas eram grossas, seu corpo de barril era mais pesado que laranjas, o seu aspecto era agressivo e tinha mau hálito. Quem o fizera assim? Quem permitiu que ele nascesse besouro? A minhoca nada respondeu, apenas resmungou e continuou seu andar arrastado. O besouro não conseguia voar tão alto como as luzes, e permaneceu com os olhos marejados vendo ao longe aquele brilho de diamante, quem sabe Ela descia e ele ate ganhasse um beijo? Após alguns minutos, ele sentiu fome e sono, e com passos desengonçados pulou da folha e saiu voando baixo na escuridão da mata.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
"Rosa Plena de meu Amor"
Ou
"Canção à minha idade"
I.
Rosa plena venha calma
Neste mundo que te rodeia,
Só aceite as esfinges da alma.
Rosa, rosa plena, canto de amor.
Neste corpo que me condena
Nasceu teu rosto, como flor de aço.
Rosa negra do hemisfério sombrio
Derramas meu sangue na mesa de jantar
E me alucina de culpa por meus desperdícios.
Venha ouvir essa triste sílaba, Rosa.
Venha com as asas do oceano vil, o Tempo,
Que acata meu corpo-rio como um catavento.
II.
É noite, meu amor. A carne é dura e o osso já está roído por demais. Áureos como caules de trigo, os restos de beija-flor caídos na jardineira transformam a poeira de meus ouvidos em palavras, causando-me imensa dor, como uma prece. Santificada seja a vossa rua batizada com teu nome, no dia do teu nascimento. Dizia poemas e delírios à minha moldura quando eu pensava em meu esquecimento e me confundia com o cosmos. Estas imagens são danosas e pouco atrativas, mas arranham as minhas artérias como veneno de ferida. Acontece que renasço ontem e morro agora. No cume calvo de minha cabeça há sempre uma maneira de descobrir as lendas do umbigo.
III.
Vermelho Obsceno
"Ergo este lamento, nesta flama,
E receoso apresento-lhe a quem me ama." - Jean Baptiste Rose (In. Soneto de Apresentação. 1755, Sertão de Aracaju.)
- E eles suspiraram:
"Presa na lua, dorme a azeitona nua na cama de Violino e sua Vênus que concebe a dor do parto nas palmeiras do tempo, a molhar o espaço quente deste precioso Vermelho Obsceno.
IV.
Te amo, e como choro por isso...
É desmedida esta terra de flor.
Suga a impureza do chão, torna-se gás,
Toca com a ponta dos dedos
A atmosfera de outros planetas.
Oh! Como é seiva, como arde, como dorme,
Como espera a paz, esta tristeza.
Que não seja sátira ao meu riso,
Mas me quedo retornando à penúria.
Acontece que a vida em mim vibra,
Nas salas secretas de meus rins,
Uma louca alegria impura, olhos
Que me derretem a geleira noturna.
V.
Cancion por La Triste Muerte de Pablo Salinas
O ar perdeu o vento. El aire es lagrima.
O carvalho escureceu seu casco, sozinho.
Por mais que seja clara e meiga
A lembrança de morrer é profunda,
Perco-me nela. O momento silencia.
Tudo, companheiro Pablo Salinas.
A folha verde nao cai mais, não outona.
Numa esfera de cera endurece o pranto
Rígido como uma pérola amedrontada.
Hei de ser santo: a paixão é irada.
Me quedo muerto por los dedos, mi canto,
Mi solo hecho de cristales y guerras.
Mova-se comigo anjo das sombras
E sobrevoe as tuas cores, Quimera!
Afaste de mim a armada ilusão.
Retorne para casa com sapatos podres.
Em meu túmulo quero uma flor de pedra
A sangrar néctar de pétalas tetras,
Ébria como o paladar das conchas do mar.
Mira el cielo extinto, mira los animales...
Sossega a tua tenda neste cometa
Pois nesta teta há lugares para mamar.
Irei como àqueles que choram de desamor
Ao ver a própria sombra cruzar o chão.
Irei navegar no amor de Deus. Adios.
Ou
"Canção à minha idade"
I.
Rosa plena venha calma
Neste mundo que te rodeia,
Só aceite as esfinges da alma.
Rosa, rosa plena, canto de amor.
Neste corpo que me condena
Nasceu teu rosto, como flor de aço.
Rosa negra do hemisfério sombrio
Derramas meu sangue na mesa de jantar
E me alucina de culpa por meus desperdícios.
Venha ouvir essa triste sílaba, Rosa.
Venha com as asas do oceano vil, o Tempo,
Que acata meu corpo-rio como um catavento.
II.
É noite, meu amor. A carne é dura e o osso já está roído por demais. Áureos como caules de trigo, os restos de beija-flor caídos na jardineira transformam a poeira de meus ouvidos em palavras, causando-me imensa dor, como uma prece. Santificada seja a vossa rua batizada com teu nome, no dia do teu nascimento. Dizia poemas e delírios à minha moldura quando eu pensava em meu esquecimento e me confundia com o cosmos. Estas imagens são danosas e pouco atrativas, mas arranham as minhas artérias como veneno de ferida. Acontece que renasço ontem e morro agora. No cume calvo de minha cabeça há sempre uma maneira de descobrir as lendas do umbigo.
III.
Vermelho Obsceno
"Ergo este lamento, nesta flama,
E receoso apresento-lhe a quem me ama." - Jean Baptiste Rose (In. Soneto de Apresentação. 1755, Sertão de Aracaju.)
- E eles suspiraram:
"Presa na lua, dorme a azeitona nua na cama de Violino e sua Vênus que concebe a dor do parto nas palmeiras do tempo, a molhar o espaço quente deste precioso Vermelho Obsceno.
IV.
Te amo, e como choro por isso...
É desmedida esta terra de flor.
Suga a impureza do chão, torna-se gás,
Toca com a ponta dos dedos
A atmosfera de outros planetas.
Oh! Como é seiva, como arde, como dorme,
Como espera a paz, esta tristeza.
Que não seja sátira ao meu riso,
Mas me quedo retornando à penúria.
Acontece que a vida em mim vibra,
Nas salas secretas de meus rins,
Uma louca alegria impura, olhos
Que me derretem a geleira noturna.
V.
Cancion por La Triste Muerte de Pablo Salinas
O ar perdeu o vento. El aire es lagrima.
O carvalho escureceu seu casco, sozinho.
Por mais que seja clara e meiga
A lembrança de morrer é profunda,
Perco-me nela. O momento silencia.
Tudo, companheiro Pablo Salinas.
A folha verde nao cai mais, não outona.
Numa esfera de cera endurece o pranto
Rígido como uma pérola amedrontada.
Hei de ser santo: a paixão é irada.
Me quedo muerto por los dedos, mi canto,
Mi solo hecho de cristales y guerras.
Mova-se comigo anjo das sombras
E sobrevoe as tuas cores, Quimera!
Afaste de mim a armada ilusão.
Retorne para casa com sapatos podres.
Em meu túmulo quero uma flor de pedra
A sangrar néctar de pétalas tetras,
Ébria como o paladar das conchas do mar.
Mira el cielo extinto, mira los animales...
Sossega a tua tenda neste cometa
Pois nesta teta há lugares para mamar.
Irei como àqueles que choram de desamor
Ao ver a própria sombra cruzar o chão.
Irei navegar no amor de Deus. Adios.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
"Uaaaaaaaaah! Bafo do canto da espera que terá uma fragrância oceânica e limpíssima, basta alcançar a chave do céu, cigana de nervo calvo e de pele dura, tripas de moça próxima e calmamente amiga do ócio da escada que viu a uva, viu? a uva verde anil pararaiar durante a chuva preta, chuva de perenes implantes de lupas nas pontas dos dedos daquela cantora dionisíaca dona de verdadeiros tubos de ar, king women, queen fora outrora além do harém do arlequim que arde em cobre e contornos de nanquim, pouco pobre, pouco nobre, veja a obra do obreiro de Abril compositor de rapadura".
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