quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ela profana a noite com sua pele de leite desenhada por incontáveis marcas de cobertor, e dorme em meu leito adentrando os meus sonhos, com a cabeça à poucos centímetros da minha. Como ardem estas curvas de cristal! Como eu choro de amor ao seu lado! Seu tato sublinha a música do amanhecer e compara o nosso canto aos anéis de vapor de algum planeta em erupção. Esta minha carne, a ela eu ofereço calmamente e preenchido de mistério. Penso, mais de uma vez, em redescobrir as profecias da vida em seu ventre materno, pois não há tempo que em mim diminua a pressa de atar os nós dos joelhos meus aos joelhos dela. Tento encontrar o calor de verão em seus olhos de deusa, e retirar do frio este meu corpo que já atravessou invernos. Quero acordá-la com histórias fantásticas de naufrágios em rios de prata e quatro braços que se apertaram loucamente sob a lua deste mundo, em sussurros ébrios e famintos. Como alimento para este espírito sereno, dou meu próprio sangue, pois não há como ouvir seu sopro de sono sem me emocionar profundamente, como um cavalo selvagem num imenso campo de feno.

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