sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Rosa Plena de meu Amor"
Ou
"Canção à minha idade"

I.

Rosa plena venha calma
Neste mundo que te rodeia,
Só aceite as esfinges da alma.

Rosa, rosa plena, canto de amor.
Neste corpo que me condena
Nasceu teu rosto, como flor de aço.

Rosa negra do hemisfério sombrio
Derramas meu sangue na mesa de jantar
E me alucina de culpa por meus desperdícios.

Venha ouvir essa triste sílaba, Rosa.
Venha com as asas do oceano vil, o Tempo,
Que acata meu corpo-rio como um catavento.


II.

É noite, meu amor. A carne é dura e o osso já está roído por demais. Áureos como caules de trigo, os restos de beija-flor caídos na jardineira transformam a poeira de meus ouvidos em palavras, causando-me imensa dor, como uma prece. Santificada seja a vossa rua batizada com teu nome, no dia do teu nascimento. Dizia poemas e delírios à minha moldura quando eu pensava em meu esquecimento e me confundia com o cosmos. Estas imagens são danosas e pouco atrativas, mas arranham as minhas artérias como veneno de ferida. Acontece que renasço ontem e morro agora. No cume calvo de minha cabeça há sempre uma maneira de descobrir as lendas do umbigo.


III.

Vermelho Obsceno

"Ergo este lamento, nesta flama,
E receoso apresento-lhe a quem me ama." - Jean Baptiste Rose (In. Soneto de Apresentação. 1755, Sertão de Aracaju.)


- E eles suspiraram:

"Presa na lua, dorme a azeitona nua na cama de Violino e sua Vênus que concebe a dor do parto nas palmeiras do tempo, a molhar o espaço quente deste precioso Vermelho Obsceno.


IV.

Te amo, e como choro por isso...
É desmedida esta terra de flor.
Suga a impureza do chão, torna-se gás,
Toca com a ponta dos dedos
A atmosfera de outros planetas.

Oh! Como é seiva, como arde, como dorme,
Como espera a paz, esta tristeza.
Que não seja sátira ao meu riso,
Mas me quedo retornando à penúria.

Acontece que a vida em mim vibra,
Nas salas secretas de meus rins,
Uma louca alegria impura, olhos
Que me derretem a geleira noturna.


V.

Cancion por La Triste Muerte de Pablo Salinas

O ar perdeu o vento. El aire es lagrima.
O carvalho escureceu seu casco, sozinho.
Por mais que seja clara e meiga
A lembrança de morrer é profunda,
Perco-me nela. O momento silencia.
Tudo, companheiro Pablo Salinas.
A folha verde nao cai mais, não outona.
Numa esfera de cera endurece o pranto
Rígido como uma pérola amedrontada.
Hei de ser santo: a paixão é irada.
Me quedo muerto por los dedos, mi canto,
Mi solo hecho de cristales y guerras.

Mova-se comigo anjo das sombras
E sobrevoe as tuas cores, Quimera!
Afaste de mim a armada ilusão.
Retorne para casa com sapatos podres.
Em meu túmulo quero uma flor de pedra
A sangrar néctar de pétalas tetras,
Ébria como o paladar das conchas do mar.
Mira el cielo extinto, mira los animales...
Sossega a tua tenda neste cometa
Pois nesta teta há lugares para mamar.
Irei como àqueles que choram de desamor
Ao ver a própria sombra cruzar o chão.
Irei navegar no amor de Deus. Adios.

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