sábado, 27 de fevereiro de 2010
Vejo o teu corpo passar pelo meu na esquina de uma multidão de fogo. Que olhos os teus. Eles me olham, procuram meus olhos e eu cedo à toda composição solitária de meu espírito, alegria. Te ofereço meu calor, vem para bem perto de mim, tudo em mim quer apenas te ver, vida linda em meu amor de mortal, branda como o acorde que Baden toca no violão, imensa. Você me abraça. Livra-me das vozes, muda todo o meu tempo. Digo algumas palavras despreocupadas, apenas quero dizer que te amo. E então me derramo em uma confortável poltrona ao brilho do dia.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Ela tem toda a beleza branca de uma nuvem em dias de chuva. Ela sabe que seu semblante é carregado de vermelho e deliciosas maneiras de sorrir. Quando quer vestir-se de beleza apenas delineia as curvas de seus olhos com uma fita negra de diamante, com toda a simplicidade de um botão de rosa que espera o sol nascer. Ela nasceu em mim e agora eu posso ser sua casa quente. Em minhas paredes estarão seus quadros feitos de música, meu próprio sangue será a tinta.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
O tempo é pouco, ou nem pouco nem muito. Logo estas velas estarão derretidas por completo. Posso ouvir os lobos uivando enquanto estou nesta mata, isolado do sono nesta barraca. Lá fora, milhares de formigas famintas circundam o calor da lona segura. O breu da noite revelou a tensão desta situação: as formigas tomaram o acampamento. Cada mordida individual provoca não dor, mas uma presença de vida poderosa. Ao meu redor vivem comunidades antigas de animais e forças famintas. Assim como eu, faminto. Estou morrendo de fome, ou vivendo de fome, tanto faz. Meu estômago e minha mente querem ser saciados com temperos, turcos ou sertanejos. Lentilhas e amor próprio. Me entregar de vez à vida. Um galho seco acabou de se soltar, quase rasgando o meu teto. Deveria eu estar mais atento à brincadeira dos sonhos?
Meu amor, que idade tem o tempo? Quando deixará de existir para nós? Vendo as camadas de cor destas rochas imensas, busco uma relação entre o tempo dos períodos geológicos e a (in)existente vastidão do infinito. Será que o nosso tempo corre em sentido único rumo à um infinito tão impalpável quanto o próprio tempo? Meu amor, meu amor... que espécie de ilusão é a vida? E como ela tornou-se para nós tão desiludida... Prefiro acreditar que a tua presença é a presença de um outro tempo, correndo livre em seu caminho que lhe foi dado, e sinto-me menos só.
Imagino um garotinho empurrando um grande portão de madeira com suas pequenas mãos, revelando uma sala bem limpa, sem mobília e com um grande tapete vermelho esticado ao centro. O garotinho adentra no templo e fica fascinado com a imagem de um monge sentado em posição de lótus, como a imagem de Buda. Ele está ansioso e livre de qualquer espécie de medo. O mestre mantém-se em silêncio por vários minutos até dirigir a palavra ao menino, que se senta no chão, mal podendo piscar os olhos.
O ombro é uma região muito aromática e potencialmente bem aventurada, um apelo inevitável ao despertar dos sentidos. Na mulher, o ombro entrega, em um delírio, todas as formas do corpo feminino. A beleza atinge seu ponto máximo ao fundir as curvas do meu próprio nariz com as curvas dos ombros daquela moça-flor. Me sinto investido de uma serena contemplação interior de toda a vida que habita cada corpo, assim como quando presencio a morte de uma estrela, ou o toque das tuas mãos brancas. E a ordem ressurge infinita nos ares da pele.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Eu preciso de palavras (mas há nenhuma). Palavras não há para te contar que me arde, me devora, me espanta o teu olhar. O teu olhar... Olhar de abelha-rainha, carregado de sonho, de Lua, completo ao me olhar. Me olha. Lembra dos ombros, nuca ou pé, mas olha bem aqui dentro do meus olhos. Palavras... palavras há poucas... E gigantes! Palavras cheias de essência! E, amor, aqui dentro vive puro, puro, puro... O teu olhar. Todos os teus sentidos. Somos iguais... E eu ardo por nós. Vejo cores, camelos, desertos, em teu olhar. Vejo flores cheias de vida nele. Vejo todas as coisas. Serei sempre teu puro olhar, se me aceitares com o meu puro amor, até que o mundo se se acabe, se durar. Para sempre é pouco para tanto olhar, para tanta boca que tua face abriga. Sei bem pouco com um lápis desenhar no papel, mas posso te desenhar dentro de mim. Sei pouco sobre esculpir no aço ou barro, mas com um formão posso te esculpir em minha mão. Puro... Entregando-me à brisa doce da tua noite. Um par de mãos. Dois pares de mãos. Três pares de mãos... e muito mais. Porque amo-te mais acima que a própria mão do mundo, ou do medo do domingo mudo. Apenas vivendo na leveza das nuvens sobre tuas costas protegidas por meu corpo (teu corpo). Mesmo que meus olhos fossem arrancados por uma serpente da natureza, eu ainda poderia ter todo amor vendo o teu olhar... Esse olhar que vê todo o amor do mundo, por todos os cantos desta casa, desta cama.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Ao teu lado eu tento prestar mais atenção no tempo. Dançando ao som da brisa, solto em teu corpo de vento. Porque dentro deste meu corpo há confrontos entre o que sou, serei e o que inevitavelmente deixarei de ser... como se tudo não fosse a mesma coisa. No entanto, há o confronto. Por que? Por que penso tanto em tudo sobre mim? Às vezes me canso de mim, mas também não posso viver sem. E sabes, perto de ti não há tanto confronto, apenas um leve sabor de livre vontade. Saber amar é saber deixar usted me amar, sem desaprender a viver. Como um maremoto que devasta o litoral e depois retorna ao mar, voltando a ser uma simples água. Simples água, simples homem.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Besouro. Besouro. Fada... No jardim imenso, soltos.
Me espere com tua doce flor, já já trago-te um pólen.
Diz o besouro. E saiu voando com suas grossas asas.
A pequenina Ninfa ficou apenas observando.
O besouro pesadão saltou da margarida
E foi buscar no alto da árvore,
Na flor mais alta, o mel para sua amada,
Arriscando fácilmente a vida.
Me espere com tua doce flor, já já trago-te um pólen.
Diz o besouro. E saiu voando com suas grossas asas.
A pequenina Ninfa ficou apenas observando.
O besouro pesadão saltou da margarida
E foi buscar no alto da árvore,
Na flor mais alta, o mel para sua amada,
Arriscando fácilmente a vida.
Vou andando pela rua atravessando todas as ruas e saio de sobresalto de um terrível atropelamento que concebi em minhas retinas bem antes do carro se aproximar da esquina. Desviei meu corpo em uma cambalhota, e outra cambalhota e me esmaguei entre as laranjas derramadas no chão, caixas de laranjas massacradas, meu corpo necessita um abrigo, estou sangrando suco de laranja, precisa de um médico, Doutor pode fazer algo por mim... Sinto muito, meu filho, você está condenado. Estou? Não, acho que não. Talvez louco. Imagine se um dia eu for internado? Imagina se alguem de coração frio leia este diário e me acuse perante todos, Ele é um perigo para sociedade, um perigo para si mesmo. Há muitos anos atrás o meu passado era mui atraente. Fui pistoleiro nas gargantas do Grand Cannyon e corria no lombo de meu cavalo de pelo pardo. Então durante uma operação de assalto à diligência do Governador, quando eu estava prestes a conseguir a mira exata do centro de sua testa, cavalgando rápido ao lado da carruagem, meu cavalo quebrou o pé, pobre coitado. Minha testa foi direto de encontro à poeira do solo. Uma das rodas da carruagem decepou meu braço direito, o gatilho mais rápido do continente. Tornei-me um velho aleijado de merda. Mas não hoje. Hoje eu morri. Eu menti para vocês. Não houve nenhuma cambalhota, e outra cambalhota, tampouco as laranjas que me feriram a carne. O céu é azul, cinza, preto, nada. Sono. Porque o pavor? Ei, ei, se acalme. Está tudo bem. Não dói mais. Mas te faz sentir falta de muitas coisas. Do amor, por exemplo. E também das flores. Vozes, também. Brisa, ah, a brisa. Meu bom e velho braço de guerra, que desfez bandidos e amassou garotas, nunca enxugou minhas próprias lágrimas, pois elas nunca existiram. Exceto neste instante. Foi preciso morrer para aprender a importância de morrer. Economize o pranto. Rolei ribanceira abaixo naquela calçada de concreto. Agora estou sentado num banco de praça, aqui em algum lugar que não consigo descrever. Um lugar que não é lugar nenhum. Um véu de seda do avesso. Uma sutileza de calor misturado com frio. Um poste frio esmagado. Um sonho caído.
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