segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Eu me apaixonei. Diferente de qualquer outra paixão ingênua que já tive, dessa vez o caso é mais grave. Eu me apaixonei pela tua dor, não que isso me impeça de enxergar tuas qualidades, mas a tua melancolia foi o que mais me surpreendeu. Ela é tão parecida com a minha própria, não em espécie, mas em potencial, que iluminou teu rosto aos meus olhos mergulhados na solidão. Não sei se é certo, ou incerto, mas um início como este me pareceu uma extravagância que eu necessitava me permitir. Como eu já esperava anteriormente, agora sofro. O sofrimento veio e me atacou como um predador. O motivo é simples, quanto maior a felicidade prometida, maior o sofrimento garantido. Tive a ilusão sedutora de duas sombras que se encontram à luz do dia na tentativa de se iluminarem, mas, irremediavelmente, elas sabem que são somente sombras. No princípio, eu cri que a solução para o meu problema estava não diretamente no teu amor, mas no teu medo. Eu quis profundamente compartilhá-lo, talvez para provar de vez para mim mesmo que não há um sentido para sua existência, senão a busca da paz. Medo, paz. Esse medo supremo que por breves instantes foi compartilhado com coragem, como por feitiçaria, fez as tuas formas, cheiros e humores me convidarem para adentrar num novo cômodo do tempo. O que abriu esta porta para mim, com muita cortesia, foi a tua própria solidão escancarada, teu avesso deslocado do mundo... idêntico ao meu, amargo e trágico, por isso encantador. Assim, quando te vejo alegre não te reconheço. Você permanece bela como uma pérola nunca encontrada, porém não é a mesma, nunca te conheci feliz. Não sei se fui eu que nunca permiti que a parte alegre da sua alma me seduzisse, ou se foi você quem o fez. Uma vez que fui bloqueado ao teu corpo, como um livro incompreensível que é escondido do campo de visão, não posso hoje ir mais além do que um breve aceno, ou um olhar perdido. Sinto falta do teu amor, que me cura de tudo e faz esquecer a dor, problema sem solução. Volto então para a minha paz solitária, sem sossego.
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