quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

(Colocar música trilha sonora: Sambolero - Luis Bonfá)

Um pierrôt andava triste pelas calçadas. Não havia ninguém que ele pudesse amar. Ele queria impressionar alguém, queria risos. Mas na verdade existia sim alguém especial como ele, sem saber quem era, ele sabia que existia.

O sol da tarde projetava sombras doces sobre os pedestres. Então ele a viu, sentada num banquinho, aparentemente entristecida. Logo percebeu que ela estava apenas silenciosa. Uma linda Colombina! Ele logo se apaixonou por sua formosura.

Ele estufou o peito de coragem! Sua expressão tornou-se engraçada. Ele se apresentou e começou a se exibir para ela com alguns truques. Porém ela nem o percebeu, continuando silenciosa e indecisa.

Após pensar e pensar, ele decidiu abordá-la, dessa vez com charme e sinceridade. Se ajoelha na frente dela, e com muita habilidade retira de dentro do peito o próprio coração, pulsando freneticamente, e ofereceu-o a Colombina. Ela o rejeitou, levantando-se e saindo visivelmente chocada com aquela demonstração. Ele permaneceu sentado no banco da calçada, sozinho. Retirou das costas um trompete e começou a tocar um bolero.

Alguns momentos depois, passa em sua frente a mesma colombina por quem seu coração fora rejeitado. Coração que ainda se encontrava apertado em sua mão esquerda. Dessa vez, ela está acompanhada por um outro pierrôt, mais forte, alto e convencido. Ela parece fascinada. O nosso pierrôt decide segui-los.

Numa ponte, ele vê a colombina e o pierrôt arrogante trocando beijinhos. Ele espia arrasado por detrás de uma árvore e vê a Colombina fazendo o mesmo truque que aprendera com ele. Ela retira seu próprio coração e põe nas mãos do pierrot convencido.

Neste instante, duas lindas jovens devidamente vestidas para o baile da noite atravessaram a ponte. Não fizeram nem questão de esconder os sorrisinhos para o pierrôt metido, que ficou completamente alucinado. Sem notar o quê estava segurando nas mãos, ele atirou o coração da linda colombina no chão. Pediu licença para ela sair de seu caminho e foi correndo atrás das duas jovens.

Aquilo foi demais para ela. O rosto delicado de flor manchou-se de lágrimas incessantes. Vendo seu coração no chão, espatifado como um objeto irregular sobre uma arca, ela começou a achar bem atraente a ideia de se atirar da ponte, mas logo desistiu. Virou-se novamente para o coração murcho no chão e se abaixou lentamente para pegá-lo. Pouco antes de sua mão poder tocá-lo, outra mão surgiu e o capturou.

O pierrôt apaixonado apenas sorriu e estendeu a mão direita com o coração da colombina. Ela esticou a sua mão, mas o que ela buscou foi a mão esquerda do palhaço, que ainda segurava seu coração amassado. Ela pegou o coração dele com as duas mãos. Seu corpo estava perto demais do corpo dele, e ele suspirou com aquele perfume de rosas.

Os dois colocaram de volta no próprio peito o coração alheio, e saíram dançando e se abraçando pela ponte. Ele tocando para ela, no velho trompete, uma linda melodia de amor, enquanto ela dançava ao seu redor graciosamente. E assim atravessaram a ponte.

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