domingo, 3 de janeiro de 2010
Vinha um homem pela estrada. Na direção contrária, vinha uma bela moça. Houve então um encontro que fez abrir um corte no céu azul daquela tarde. Os minutos e segundos perduraram nobres nos olhos da moça, e o homem assobiou uma canção com uma quietude que fez os bichos e templos retirarem suas vozes do mundo. Após, não existia mais mundo, mas apenas um trovão que iluminava um muro de aço, protegido por pontos vazios de razão, habituados à fortuna do silêncio. Não apenas para louvar o pôr-do-sol, mas o rapaz quis impressionar a jovem moça que, fascinada com aquele som de sacrifício, tão sincero, nunca antes ouvido por ela, quis morrer e renascer nos braços dele. No beijo dos jovens, uma enorme onda do mar invadiu as ruas e planícies. Os peixes começaram a saltar para as montanhas, num grande suicídio coletivo. Logo a quantidade de peixes obstruiu a passagem das pessoas que lamentavam por suas vidas em frágeis embarcações. As montanhas ficaram isoladas do resto do mundo, o condenado resto do mundo que curtia o inferno de sua destruição. Os poucos habitantes das ilhas formadas por montanhas fortificadas de peixes mortos logo abandonaram-se a podridão do odor que as milhões de carcaças produziam, e que se espalhava por todo o corpo como um veneno altamente letal. Somente o homem e a moça, que por ironia do destino haviam se encontrado e se apaixonado justo no dia do juízo final, sobreviveram. Eles se lançaram juntos numa fuga por dentro da terra, a qual eu mesmo não posso explicar com palavras os detalhes e a maneira como haviam escapado com vida. Posso, por hora, dizer que um coral de criaturas marinhas cantarolavam e dançavam nas profundezas do oceano enquanto o casal disparava, como tiro de canhão, rumo ao centro da terra. A sua história tornou-se mito universo à fora, e a veracidade destes acontecimentos permanecem pairando ao redor do momento daquele primeiro encontro.
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