quarta-feira, 17 de março de 2010

Cordas de Paco de Lucia entre duas águas. Acordo com essa sinfonia ressoando em minha cabeça oca, já tão pouca que nem sei das coisas. Imagino uma paisagem com montanhas que descrevem as curvas dos seios de cada acorde executado. Neste sono que me arranha os olhos, minha lucidez não encontra salvação. Ela sonha e não sabe parar de sonhar. Fios de cabelo, gotas de lágrima e fantasias ao redor de teu sexo macio. Sem ser outro, vivo deste encanto. Quanto corpo. Quantas horas já se passaram? Deixei de saber há muito tempo. As horas deste quarto são rebeladas, revolucionárias, independentes. Cada hora que passa executa os segundos da maneira que mais lhe agrada, e eu não me preocupo nem um pouco com isso. Às vezes, uma sucessão de dois segundos, na contagem pela luz do sol, chega a durar vastas semanas. Já presenciei três horas seguidas perdurando entre o curto intervalo do desabrochar de um hibisco vermelho. O tempo neste quarto, de fato, corre livre. Os poucos minutos de uma canção flamenca dedilhada me fixam nas paredes épicas das origens do mundo. Eras inteiras, períodos geológicos que já ultrapassaram os pensamentos humanos e ciclos lunares deslocam-se em um véu de areia na contagem do tempo da canção de Paco, que ressoa oca em minha cabeça sinfônica que pouco sabe sobre as coisas. Ela, a cabeça, é a coisa. Ela nasce distante da luz da noite, como um fruto, e dorme na penumbra do templo de teus peitos.

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