quarta-feira, 17 de março de 2010
Passado muitos anos, o almirante retorna para casa cheirando à maresia. Surpreso de uma forma macia, ele abre a porta de casa e se depara com a sala que costumava ler seus livros e aquecer sua memória perto da lareira. Ele caminha a lentos passos até a poltrona de balanço, a mesma que sonhara durante as noites perturbadas do fronte de batalha enquanto adormecia num quarto frio e secreto no navio. Nas lembranças, o almirante recorda-se de cães diabólicos uivando ao seu redor, enquanto centenas de buracos de metralhadoras apontavam para a casca das maçãs de seu rosto. O ar, nesse sonho, era acre e ardente como em um deserto de sal. Ele queria gritar de medo, mas de suas gargantas todo o oceano atlântico era regurgitado. Seus pulmões eram esmagados por tanta água, aos poucos ele esqueceu como respirar. Aquela água inundava o campo de batalha e saia incansavelmente de sua boca como um hidrante desgovernado. Os marinheiros inimigos com seus canhões de damasco e bombas de manjericão pouco podiam contra o turbilhão de água salgada que o almirante expelia sobre todo aquele ambiente de destruição e morte que os cercavam. Todos foram aniquilados. A água inundou toda a paisagem, e o almirante permaneceu inexplicavelmente vivo, enquanto flutuava à vários metros de profundidade, ainda liberando água pela boca. Após alguns minutos, o nível da água dos mares e oceanos do planeta começou a se elevar com extrema velocidade, nem o mais alto pico rochoso deixou de ser tragado pelas ondas.
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